ENTENDENDO AS HIPERSENSIBILIDADES ALIMENTARES - 9/12/2005
 

As hipersensibilidades alimentares estão se tornando cada vez mais prevalentes na população mundial. Dados da Americam Academy of Allergy, Asthma, and Immunology indicam que 50 milhões de americanos possuem algum tipo de alergia alimentar.
As hipersensibilidades alimentares podem ser de dois tipos: imediata ou tardia. As imediatas são um fenômeno raro e afetam de 0,3 a 7,5% das crianças e 1 a 2% dos adultos. Como todo processo alérgico, a alergia imediata também mobiliza anticorpos, mais especificamente do tipo IgE. Estes se ligam ao antígeno alimentar agressor, formando-se os imunocomplexos (complexos de antígeno e anticorpo). A partir daí há liberação de citocinas e histamina, entre outras substâncias, resultando numa série de reações dentre elas o fechamento de glote, a fadiga, o lacrimejamento dos olhos, as urticárias, a coceira corporal, o stress respiratório, a coriza, as reações asmáticas e até mesmo o choque anafilático. Estas reações podem ocorrer minutos ou horas após a ingestão do alergeno alimentar, sendo por isso denominadas de imediatas. Os alimentos que mais provocam este tipo de reação são: ovos, leite de vaca, nozes, ostras, soja, trigo e peixe.
Um segundo tipo de hipersensibilidade alimentar, ocorre quando anticorpos do tipo IgA, IgG e IgM são produzidos em resposta a ingestão de alimentos, agentes químicos ou toxinas bacterianas produzidas no ambiente intestinal ou veiculadas através dos alimentos.
A cafeína, assim como aditivos alimentares, glutamato monossódico e corantes também são agentes causadores de hipersensibilidades alimentares. Estas reações podem ocorrer no mesmo dia, horas após a ingestão alimentar, ou até 4 dias após a exposição ao alergeno, sendo por isso chamadas de hipersensibilidades tardias ou escondidas.O termo escondida se refere também ao fato de ser de identificação e diagnóstico difíceis, uma vez que exames que quantificam a produção destes anticorpos específicos é caro e pouco disponível.
A maneira de diagnosticar uma hipersensibilidade e que está mais ao alcance da maior parte dos profissionais é aplicar a dieta de eliminação por pelo menos 30 dias, onde somente devem ser ingeridos aqueles alimentos com baixo potencial alergênico. Após este período segue com a reintrodução gradual dos alimentos, sempre estando atenta para correlacionar o aparecimento de algum sintoma com a ingestão de determinado alimento. Neste sentido, as hipersensibilidades tardias podem ser cíclicas ou fixas. São chamadas cíclicas quando a eliminação do alergeno alimentar em questão é feita durante meses (o tempo varia entre indivíduos) e isto permite a sua reintrodução desde que esta não seja de maneira muito freqüente. Normalmente se tolera bem a ingestão do alimento com 4 dias de intervalo. Já nas alergias fixas, toda a vez que o alimento é ingerido ocorre reação independente do tempo de intervalo que se dá entre as ingestões do mesmo, ou seja, não há descensibilização do sistema imunológico mesmo que se permaneça meses ou anos sem ingerir o alergeno alimentar.
Praticamente qualquer alimento pode provocar as reações de hipersensibilidades tardias, mas os mais comuns são a carne vermelha, frutas cítricas, leites e seus derivados, glúten (trigo, centeio, cevada, aveia e malte), ovos, milho e carne de porco. Estes contribuem com pelo menos 80% dos casos.
Normalmente o antígeno alimentar responsável por desencadear a alergia é ingerido diariamente, em dosagens relativas e provavelmente há muito tempo. Desta forma, estamos diariamente levando a uma sobrecarga hepática, uma vez que o fígado tem que dar conta de eliminar todos estes tóxicos que chegam a circulação. O sistema imune também pode entrar em fadiga, devido ao aumento do trabalho imposto.
A incidência e a severidade das hipersensibilidades alimentares aumentou dramaticamente nos últimos 15 anos. Acredita-se que o aumento tenha como origem a exposição repetida ao antígeno, digestão deficiente, o aumento do estresse sobre o sistema imunológico (com o aumento da poluição do ar, água e alimentos), desmame precoce e a rápida introdução dos alimentos às crianças e também devido a manipulação genética de alimentos e plantas, resultando em componentes alimentares que provocam reações cruzadas com tecidos corporais.
Sem duvida nenhuma, a hiperpermeabilidade intestinal, também chamada de leaky gut syndrome, é uma das maiores contribuintes para o desenvolvimento e a manutenção das hipersensibilidades alimentares.
Neste contexto, a disbiose intestinal aparece como um dos maiores fatores causadores do aumento da permeabilidade intestinal, permitindo que a partir de uma barreira intestinal comprometida, partículas alimentares, fragmentos e toxinas bacterianas, poluentes, químicos ambientais e fragmentos protéicos mal digeridos atravessem a barreira intestinal, sejam absorvidos para a corrente sanguínea e estimulem o sistema imune a produzir anticorpos contra estas proteínas estranhas, configurando assim o processo alérgico. Esta reação pode ser localizada, sistêmica ou em sítios específicos distantes. Desta forma, entendemos que o uso de antibióticos, assim como a presença de cândida, fatores estes, que desequilibram a microbiota intestinal, podem contribuir com o aumento da predisposição as hipersensibilidades alimentares.
Mas por que alguns indivíduos são alérgicos e outros não? Parece que o fator genético tem interferência, assim como o stress, a má digestão, a toxicidade ambiental e a má nutrição. Podemos ficar anos sem manifestar reação alérgica a um determinado alimento, até que em determinada época por um fator genético físico ou emocional a alergia se manifesta com a quebra do balanço orgânico.
É suposto que as alergias alimentares sejam a principal causa de vários sintomas não diagnosticados. Uma série de sintomas foram listados e todos estão relacionados a algum tipo de hipersensibilidade alimentar. Desta forma podemos ver, ainda com mais clareza como é comum este tipo de reação.

CABEÇA: dor de cabeça crônica, enxaqueca, dificuldade em dormir.
BOCA E GARGANTA: tosse, dor de garganta, gagueira, aftas na gengiva, lábios e língua.
OLHOS, OUVIDOS, NARIZ: coriza, zunido no ouvido, problemas de seios nasais, olhos lacrimejando, infecções auditivas, formação excessiva de muco.
CORAÇÃO DE PULMÃO: arritmia, taquicardia, congestão pulmonar, bronquite, falta de ar.
GASTROINTESTINAL: náuseas, vômitos, constipação, diarréia, síndrome do intestino irritável, gases, dor abdominal.
PELE: psoriase, eczema, pele seca, sudorese excessiva, acne, queda de cabelo.
MÚSCULOS/ARTICULAÇÕES: fraqueza muscular, dores, artrite.
ENERGIA/ATIVIDADE: fadiga, depressão, lapsos de memória, hiperatividade.
EMOÇÕES/MENTE: flutuações de humor, ansiedade, tensão, medo, nervosismo, comportamento agressivo, compulsão alimentar ou por bebidas, confusão mental, baixa concentração.
OUTRAS: excesso ou déficit ponderal, retenção hídrica, insônia, aumento da freqüência urinárias, queimação genital.

Por: Andrea B.B. Adba (Nutricionista)

 
 
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